Por que os trabalhadores em
educação estão em greve?
A greve
dos trabalhadores da educação da rede estadual de ensino ultrapassou os trinta
dias na última semana. Paralisamos escolas em todo o estado, junto com os
servidores da Secretaria de Educação (SEDUC) porque existe uma crise profunda
no sistema educacional, que é ainda mais crítica nos municípios do interior
do estado. Ao contrário do que o governador Simão
Jatene (PSDB) está informando nos comunicados oficiais do governo do estado, a
pauta de reivindicações apresentada por nosso movimento não foi respondida em
sua maioria.
Tivemos
que realizar uma série de ações para chamar a atenção da sociedade e exigir que
o governo dialogue com nosso movimento para uma negociação justa e que responda
as nossas demandas, que não são poucas.
A
situação das escolas beira a calamidade, com prédios sucateados, literalmente
caindo aos pedaços, com merenda escolar (quando é fornecida) de péssima
qualidade. Algumas escolas estão até sem água potável para nossas crianças. A
insegurança também é algo com que temos que conviver cotidianamente.
Todos
esses problemas demonstram que não temos a mínima condição para exercer nossa
profissão de ensinar os filhos e filhas de trabalhadores e trabalhadoras. Não bastasse
o descaso e a forma criminosa como o poder público trata a educação, fingindo
que não existem problemas nas escolas, quando saímos a reivindicar mudanças
profundas, somos tratados pior do que bandidos pelo governador.
Tivemos que ocupar o prédio da Secretaria de
Educação (SEDUC) na semana passada para que o governo negociasse. Durante a
ocupação, o governo Jatene não hesitou e mandou o Choque e o canil da Polícia
Militar para intimidar e agredir mães e pais de família que querem melhores
condições de trabalho e uma mudança profunda na forma como a educação pública vem
sendo tratada. O governador parece não ter entendido ainda o que a multidão que
foi às ruas em junho exigiu do poder público: educação, saúde e serviços
públicos padrão FIFA.
Jatene
fez pior ainda. Enviou ordens ao comando da Polícia Militar para que não
entrasse água e alimentos para os ocupantes da SEDUC. Em conflitos
armados ou em guerras civis, a cruz vermelha e a anistia internacional
recomendam que, para defender os direitos humanos em áreas de conflito, deva
existir um corredor humanitário para que chegue comida e água as pessoas. O
governo do estado não permitiu nem isso. Ou seja, foi mais intolerante com os
trabalhadores do que em uma situação de guerra civil. Por esse motivo, nós,
educadores, montamos o mosaico com a palavra "fome" no segundo dia da
ocupação, amplamente veiculada a imagem nas mídias e redes sociais.
A
truculência de Jatene com nossa greve começou cedo. A determinação da Justiça
Estadual de considerar o movimento abusivo antes mesmo do seu início, e a forma
como alguns meios de comunicação tratam nossa luta é parte dessa movimentação.
Felizmente, nas ruas com a grande participação da categoria em nossa agenda de
assembleias e atos de greve e a decisão do STF que derrubou a ação de
criminalizar nossa luta, conseguimos ser mais fortes que a intolerância do
governo do estado.
Estamos
fazendo greve não porque gostamos de largar nossa sala de aula para ocupar
ruas, mas porque hoje é necessário. A única forma que temos de pressionar o
poder público a reformar as escolas e a responder nossas reivindicações é dessa
forma.
Nossa
greve é por melhores condições de trabalho, piso salarial integral (que não
chega a dois salários mínimos e meio), pagamento do retroativo do piso (o
governo nos deve R$ 72 milhões), lotação por jornada com hora-atividade (tempo
de planejamento), gestão democrática (eleições para direção das escolas), PCCR
Unificado (direitos iguais para professores, técnicos e funcionários ) e reforma
nas escolas.
Com
essa pauta respondida estaremos, com certeza, em melhores condições para formar
jovens que contribuam para melhorar a sociedade que vivemos.
As conquistas que já tivemos em
processos de luta históricos só foram possíveis porque fomos pra rua e denunciamos
as mentiras contadas por governos e patrões. Na educação não é diferente e
estamos lutando pelo mínimo, que é o direto ao trabalho digno.
Submeter-se
a horas e horas de trabalho, que em grande parte não é remunerado, exigindo dos
professores que levem provas e planejamentos para trabalhar em casa pois as
escolas encontram-se em condições precárias. Deslocar-se várias vezes no mesmo
dia para “correr atrás de carga horária” e garantir minimamente seu salário pois
a cada lotação o professor não sabe exatamente onde e como será lotado, podendo
haver alteração no seu salário, e sempre para menos! Estes, entre tantos outros elementos,
tem levado os trabalhadores em educação a um processo de adoecimento crescente.
Por
esse motivo nos resta lutar. Lutar por dignidade e para que a educação seja
tratada como prioridade pelos governos. Por fim, nós, da Unidos Pra Lutar
(Associação de Sindicatos Independentes), o Sindicato dos Servidores Federais
do Pará (SINTSEP-PA) e o Diretório Central dos Estudantes da Universidade da
Amazônia (DCE UNAMA) iremos representar junto a Anistia Internacional, a
Comissão de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos), a
Organização Internacional do Trabalho, com sede em Genebra na Suíça, pedindo a
condenação do governo paraense pela barbaridade cometida com a repressão
policial na ocupação da SEDUC.
Não
podemos tratar a luta em defesa de uma educação pública e de qualidade como
caso de polícia. Condenados devem ser os que saqueiam os cofres públicos desse
país, para encher seus bolsos enquanto crianças não tem nem merenda, nem água
nas escolas que caem aos pedaços. Da mesma forma como trata nossas crianças,
Jatene tentou nos tratar na SEDUC igualmente sem água e comida. Não ficará
impune tal arbitrariedade.
A luta por
uma educação de qualidade é de todos: professores, técnicos, merendeiras,
estudantes e, fundamentalmente, dos pais dos alunos, que dividem com a
categoria dos trabalhadores em educação a responsabilidade de educar jovens e
adultos, formar verdadeiros cidadãos na construção de uma sociedade mais
igualitária, justa para os trabalhadores e filhos dos trabalhadores.
Silvia Leticia Luz. É Professora. Secretária Geral do
Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Pará (SINTEPP) e integrante da
Executiva Nacional da Unidos Pra Lutar. e-mail: silvialeticialuz@yahoo.com.br
(91) 8193-9132 e (91) 8808-7781.
2 comentários:
Força companheirada!
Estaremos torcendo por vcs aqui, infelizmente não podemos ir pessoalmente ajudá-los, mas apoiamos de forma incondicional.
Forte abraço
Profa Rita Diniz
APEOESP - SALTO- SP
Professores, vocês são heróis pela vossa profissão, são heróis em dobro por lutarem com a greve pelo minimo que o estado deve fazer. Estado qual lucra com impostos trilhões de reais por ano!
Vocês são heróis ao triplo por mesmo com tantas dificuldades em conseguir justiça impostas claramente pelo vosso governador continuam lutando!!!
Muito obrigado! Muito obrigado mesmo, por essa tão urgente e necessária greve!
Não parem, por favor! Só quando conseguirem o justo!
Um grande abraço para todos!
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