As obras nas usinas de desenvolvimento acelerado foram paralisadas. As greves nos canteiros de Jirau e Santo Antônio duraram mais de 15 dias. Mesmo com o a ilegalidade da greve decretada pelo TRT local, os trabalhadores conseguiram reajuste de 7% para quem recebe até R$ 1,5 mil e 5% para quem recebe acima desse valor. Foi obtida também a reposição dos dias parados até o dia 10.
A segunda rebelião operária em pouco mais de um ano nas obras desta hidrelétrica mostra o caminho para os trabalhadores da construção civil a das outras categorias do país para derrotar o arrocho salarial e obter melhores condições de trabalho.
Em 5 meses, duas greves em Belo Monte
Trabalhador sendo preso na segunda-feira, 02/04 |
Agora os 5 mil peões em Belo Monte impõe uma poderosa greve que já dura mais de 5 dias. Com a paralisação em Belo Monte, completa-se o quadro em que as quatro principais hidrelétricas projetadas pelo governo para a Amazônia com o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) foram paralisadas. Três delas por rebeliões operárias.
Na manhã dessa segunda-feira, 02/04, um trabalhador foi preso durante ação da Polícia Militar. Foram usadas bombas de gás e spray de pimenta e até um helicóptero, alugado pela Norte Energia, para o uso da Polícia e Defesa Civil que sobrevoa o local com fuzis apontados para os grevistas. O governo tem operado para encerrar na marra com as greves. Rapidamente mandou a Força Nacional de Segurança para Jirau e, com apoio do governo estadual, conta com forte aparato da PM. Por outro lado, adiantou o pagamento para essa segunda-feira para tentar desarticular o movimento.O Consórcio ainda distribuiu panfletos dizendo que “paralisação não é a solução”. Nada mais cínico!
A morte do operário Francisco Lopes, de 34 anos, quando executava a derrubada de árvores, foi o estopim para a massiva adesão dos trabalhadores dos dois principais canteiros (de Belo Monte e Pimental) a paralisação. O movimento reivindica aumento salarial, diminuição do intervalo de tempo para poder visitar suas famílias de 6 para 3 meses, não-rebaixamento do pagamento e solução de problemas com a comida e água. Em novembro de 2011 já tinha ocorrido a primeira greve no canteiro por praticamente as mesmas pautas. É a segunda greve no canteiro da menina dos olhos do governo Dilma e do PAC em menos de 5 meses. Nada mudou de lá pra cá.
“Chinesas” relações de trabalho no PAC de Dilma
O jornalista Ruy Sposati, do Comitê Xingu Vivo, que acompanha a mobilização, conseguiu o seguinte depoimento de um operário: “A pauta é a mesma de antigamente: tudo o que está no acordo coletivo. Não cumpriram nada”, explica um dos trabalhadores. Segundo ele, apesar das greves e pressões realizadas no ano passado, que levaram a empresa a assinar o acordo coletivo, ao invés de melhorar, as condições de trabalho tem piorado.
O trabalhador morto em acidente, que, segundo operários prestava serviços para o CCBM, era da empresa terceirizada Dandolini e Peper, e estava trabalhando na derrubada de árvores no canteiro Canais e Diques. “Nós não temos segurança nenhuma lá. Falta EPI [equipamento de proteção individual], sinalização e principalmente gente pra fiscalizar”, reclamam os trabalhadores.
“Nosso ticket alimentação, por exemplo, é de R$ 95, enquanto em outras obras esse valor chega a R$200, R$300, desabafou um operário que não quis se identificar. Ele afirma que as condições de saúde, alimentação e transporte para os funcionários também são precárias (Jornal O Liberal 30/03/2012).
É lamentável também que até agora, o SINTRAPAV (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Pesada e Afins do Pará), ligado a Força Sindical, que deveria representar a categoria, mantenha-se distante da realidade dos trabalhadores só vindo a Altamira depois de tragédias já anunciadas como a morte de um trabalhador. E quando vem é justamente para tentar desmontar a mobilização sem escutar a categoria. Dessa vez, diferente do ano passado, até o momento nem sinal do sindicato pelego, que privilegia uma negociação com o Consórcio Construtor, distante de onde se concentra a mobilização.
As grandes obras explodem em mobilizações
Existe uma situação explosiva nas grandes obras no país além das greves nas hidrelétricas. Os 13 mil trabalhadores da construção civil da Comperj (Complexo Petroquímico do Estado Rio de Janeiro) – protagonizaram duas greves em menos de um ano. A última com mais de 30 dias de paralisação e com a justiça jogando o movimento na ilegalidade.
Operários na plataforma de São Roque do Paraguaçu, da Petrobrás na Bahia, entraram em greve também. Nas obras da copa, os trabalhadores do Estádio Arena das Dunas, no Rio Grande do Norte fazem paralisação por equiparação salarial com os operários de outros estádios que serão sede da Copa.
Os peões da construção civil de Fortaleza estão em data-base e já preparam greve por reajuste.
O ritmo acelerado das obras impõe aos trabalhadores condições precárias de trabalho. Esse tem sido o combustível que tem incendiado as mobilizações. O governo Dilma, finge que nada vê e silencia para os baixos salários, longas jornadas e falta de condições de trabalho. "Chinesas" relações de trabalho estão sendo impostas aos operários nesses canteiros.
A tripartite em Jirau e o acordo nacional são uma farsa! Nenhuma confiança nas centrais que traem os trabalhadores!
Quando explodiu a rebelião em Jirau de 2011, Dilma convidou todas as centrais do país para uma comissão tripartite (centrais sindicais, empresas e governo), para passar a idéia de que medidas efetivas seriam tomadas. As decisões sobre a situação da categoria em greve estavam sendo feitas sem a participação de nenhuma comissão de base que lutava. A medida tomada pelo fórum anti-operário foi demissões em massa com declarações de que “é um avanço, porque antes de ocorrerem as demissões serão negociadas com os sindicatos...” CUT, Força Sindical e toda máfia de centrais de aluguel acharam tudo normal. Isso na verdade significa um crime! Uma traição contra os trabalhadores!
Mesmo com acordo nacional, as greves continuam a ocorrer
No último dia 01/03, foi assinado em Brasília novo acordo nacional tripartite entre governo, centrais, empreiteiras e indústrias, que teria o objetivo de melhorar as condições de trabalho. Infelizmente, tal acordo ficou apenas nos papéis assinados, pois os trabalhadores seguem sendo submetidos a condições de trabalho que beira a escravidão.
A CSP Conlutas e o PSTU sempre foram contra as "Comissões Tripartites". Mas em 2011, na greve de Jirau rapidamente entraram. Ficaram calados e ajudaram a iludir os trabalhadores. Não falaram que quem devia negociar não era a CUT nem a Conlutas, senão os representantes da base, das obras! A situação chegou ao limite quando anunciaram as demissões e a Conlutas resolveu continuar na “comissão tripartite”. Só depois de algum tempo os companheiros saíram pela porta dos fundos da vergonhosa comissão que havia traído e atacado os trabalhadores.
Seguir o caminho de Jirau! Apostar na mobilização para vencer!
Assembleia dos trabalhadores em Jirau. Foram 43 mil trabalhadores de braços cruzados. |
É preciso aprender com as lições de Jirau e Santo Antônio que é a mobilização e a luta dos trabalhadores que será a ferramenta para arrancar salário digno e melhores condições de trabalho. A segunda onda de greves nestas usinas demonstrou que é possível obter conquistas priorizando a mobilização, sem confiar nas centrais e sindicatos pelegos que traem as greves.
Por isso não devemos confiar em nenhum espaço em que as centrais e sindicatos governistas queiram falar em nome de uma luta a qual eles não participaram. Está errada proposta dos companheiros da CSP Conlutas de defender a efetivação do acordo nacional feito entre governo, centrais pelegas e empreiteiras. Significa não consultar os trabalhadores sobre suas pautas mais sentidas. O mesmo acordo tem se demonstrado uma mera formalidade, pois as greves estão mostrando que o mesmo não foi aplicado. Deve se privilegiar ouvir as comissões de base de cada greve em cada canteiro ao invés de confiar numa formalidade assinada entre os que atacam e os que traem os trabalhadores.
É uma tarefa de todo o movimento sindical cercar de solidariedade a greve em Belo Monte e unificar as lutas em cursos nas diversas categorias. A Unidos Pra Lutar estará junto aos piquetes dos trabalhadores em Altamira, colocando toda a estrutura política a serviço que a luta seja vitoriosa.
- Todo apoio as greves em Belo Monte, Jirau e Santo Antônio e nas obras do PAC!
- Nenhuma confiança em negociações que não partam de comissões de base que representem os trabalhadores e suas pautas!
- Nenhum trabalhador deve ser demitido!
- Unificar as lutas em curso! Por um dia nacional de mobilização unificada!
- Até a derrota do governo e das empreiteiras!
Clique na imagem para acessar o boletim especial da Unidos em apoio a greve
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