Foi recebido como um balde de água fria, em especial pelos trabalhadores ligados ao SINASEFE, o acordo fechado entre a direção do Andes e o governo Federal. A direção do Andes que durante toda a greve da FASUBRA pouco fez para ajudar a tirar do isolamento a justa luta dos técnicos administrativos das universidades, com referido acordo, não só ajuda a isolar como também ajuda o governo a dividir a greve dos trabalhadores dos Institutos Federais Tecnológicos (IFETS).
Nota do SINDUFAP sobre a assinatura do acordo 02 de Set. de 2011
O Sindicato dos Docentes da Universidade Federal do Amapá, como seção sindical do ANDES-SN, lamenta a assinatura do acordo por entender que a proposta do Governo Federal era insuficiente para atender às demandas da categoria e apresenta uma análise da compreensão do quadro conjuntural. Esta análise está sendo encaminhada para conhecimento da Diretoria do ANDES-SN, do setor das IFES e das seções sindicais, bem como para a população em geral, conforme deliberado na Assembleia Geral de 30 de agosto de 2011.
Da análise:
Perdemos o momento mais importante dos últimos anos para a construção de uma greve forte e vitoriosa com conquistas para os docentes e a educação brasileira. Apesar do discurso em contrário, o Governo Federal encontra-se combalido e vinha agarrando-se aos movimentos anticorrupção como forma de angariar algum apoio popular e de definir um perfil para a gestão da presidente Dilma Rousseff. Apesar disso, mesmo esta estratégia vinha se mostrando frágil, uma vez que a ação anticorrupção tem ocorrido de forma tímida em alguns fatos como forma de resguardar pessoas importantes para a atuação do governo.
Não bastasse a fragilidade que se impõe a partir da perda de apoio tanto popular como da base aliada, que aumenta suas exigências para alinhar votações, um surto de greves, ocupações, paralisações e outros atos das mais diferentes ordens e categorias trabalhistas vêm eclodindo internacional e nacionalmente. No âmbito educacional, o governo ficaria em uma situação muito desconfortável se SINASEFE, FASUBRA (ambas em greve) e ANDES-SN estivessem todos em greve. Seria uma greve geral da educação com uma repercussão considerável e, com certeza, uma condição que o Governo Federal gostaria de evitar principalmente em um momento que congestiona a mídia com a campanha sobre a expansão de universidades e institutos federais. A greve conjunta denunciaria que a propalada expansão ocorre a custa do sucateamento das instituições e do aviltamento das condições de trabalho. Após o acordo assinado e sendo conhecedores das condições em que estamos vivendo no sistema federal de ensino, assistir estas campanhas na mídia chega a ser ultrajante.
O movimento vinha em um crescente. Isto pode ser afirmado tanto para a própria UNIFAP quanto para o conjunto das universidades brasileiras. A cada rodada de negociação o quadro de universidades fazendo AG e deliberando no sentido de construção e indicativo de greve vinha aumentando. Nas AG do SINDUFAP fomos avançando passo a passo: construção da greve, indicativo de greve sem data, indicativo de greve com data. A cada AG mais professores vinham compreender como estavam as negociações, bem como participar e discutir os rumos do sindicato na negociação. Chegamos a bem mais de um terço de sindicalizados presentes na AG do dia 30 de agosto, isto sem considerar um número expressivos de professores que, mesmo sem comparecer as AG, procuravam os diretores do sindicato e buscavam se manter atualizados quanto à negociação.
Os avanços ocorridos ao longo do processo de negociação, embora importantes, foram tímidos no sentido de atender nossas reivindicações, mesmo aquelas protocoladas como emergenciais e oriundas de deliberação do 56º CONAD. Estes avanços minimalistas do governo ocorrem no mesmo momento em que há relatos de aumentos do superávit primário e de arrecadação que vêm batendo recordes, bem como de uma alocação maior de recursos para pagamento da dívida. Ou seja, o governo anuncia aos quatro cantos que está sobrando dinheiro e fecha o cofre na negociação.
A proposta acordada é insuficiente. A principal leitura feita por parte dos docentes na UNIFAP foi a de que 4%, mesmo sobre retribuição por titulação e vencimento básico com a incorporação da gratificação de caráter produtivista, é nada. Os docentes durante a AG não desconsideraram os avanços e os demais itens acertados, mas reiteraram que a assinatura do acordo nos termos propostos pode ser considerada uma derrota face ao quadro que tínhamos, principalmente se lembrarmos que o governo tem, sistematicamente, quebrado acordos assinados com diversos sindicatos.
Por fim, é óbvio que há elementos conjunturais em cada instituição e na atuação de cada seção sindical, que os docentes da UNIFAP respeitam, mas fica a perplexidade da votação do setor das IFES. Como, considerando todo o contexto e os anseios dos professores por um reajuste significativo, mesmo daqueles que não participam da vida do sindicato, houve uma votação expressiva pela assinatura do acordo? A pergunta retumba em nossas mentes e deverá demorar um tempo antes de calar.
O movimento, portanto, era valioso e deveria ter seguido em ascensão. A assinatura do acordo pode prejudicar movimentos futuros. A partir dessas considerações, os docentes da UNIFAP reafirmam sua posição de que o momento era oportuno para a greve e, simultaneamente, apesar da discordância com o desfecho, reiteram a confiança no ANDES-SN e nas suas formas e instâncias democráticas de deliberação.
Direção do SINDUFAP
02 de Setembro de 2011
Professora Marina e demais integrantes da Direção da ANDES.
Indignado e estarrecido, li nota do meu sindicato, a ADUFEPE – hoje, na verdade, transformado em associação beneficente ou grêmio estudantil, por ação do PT e do PC do B, que o comandam – que a ANDES assinou acordo com o Governo Federal, que produz arrocho salarial ímpar, a lembrar os tempos da ditadura, altamente lesivo aos interesses maiores da Docência Superior, e em última análise, à própria Nação e à Cidadania. Foi difícil imaginar sequer a ocorrência de semelhante ação. Não é difícil perceber que os senhores não tinham o direito de fazer tal acordo, porque contrariava decisões soberanas em várias assembléias de professores de todo o Brasil, que clamavam por greve em várias delas.
Sou médico e professor de Medicina há 41 anos e testemunho diariamente descrições de quadros humanos de enorme sofrimento, por carência de médicos, de hospitais, de medicamentos, de transporte público, de habitações decentes, de ruas, sob violenta luta de classes, que assusta os que moram nos grandes centros urbanos do nosso país, notadamente os que sobrevivem nas suas periferias. Explicando esta situação dramática estudantes meus, oriundos dos estratos mais ricos da nossa sociedade, muitos não creram que com todos esses anos, o meu salário líquido não atingisse a soma de 5.000,00 – muitos disseram, “faça greve, professor, isto é um absurdo!” E dói ver que a minha Associação Maior, criada em plena ditadura militar, não veja isto, se humilhe, se rebaixe, a crer que no próximo ano “eventuais distorções serão corrigidas”, esquecendo do nosso ditado nordestino: “quem muito se abaixa, a bunda aparece”, pois revela medo de classificação de “sindicato de radicais”, como se a luta por um mundo melhor e mais justo pudesse prescindir de radicalismo e de dignidade de posições.
Muitos dos senhores não viveram a ditadura militar. Eu a vivi nos seus 21 anos e dela fui vítima, carregando doença intestinal sem cura, nascida nos tempos do terror de Medici. Os senhores não viram o corpo dilacerado do Padre Henrique, como eu vi, os senhores não testemunharam o indescritível sofrimento de Mata Machado, os senhores não olharam os muros da casinha de Dom Helder Câmara metralhados pelo CCC pernambucano, os senhores não assistiram a corpos violentados em prontos socorros, de
companheiros nossos pela polícia política ditatorial. E até hoje semelhante ofensa à dignidade do ser humano foi resgatada por nossos dirigentes que se dizem “de esquerda”, mas ligados a lambe-botas de generais, como o José Sarney, ou nomeando para cargos públicos relevantes figuras que habitaram nos anos de chumbo o temível Comando de Caça ao Comunistas. Com gente traidora dessa laia não podem existir acordos, meus colegas, não podem!
Sabendo disto que os senhores fizeram, sem a minha anuência e a de muitos docentes do nosso país, tenho vontade de me desligar do meu “sindicato”, sobretudo quando dando aulas de MEDICINA sinto no meu nariz e na dos meus alunos, como eles falam, enorme fedentina que exala de banheiros de professores, imundos e mal conservados, junto aos auditórios ou a tentar retirar dinheiro do caixa da agência do BB do Hospital das Clínicas da UFPE, onde a mesma fedentina volta, em atentado à dignidade humana e à saúde pública, sem sabermos a quem procurar ou a quem denunciar. Tudo isto testemunhando a decadência da Escola de Medicina do Recife, que foi a segunda melhor do país em fins do governo Goulart, em plena administração de uma Senhora que foi torturada por ação dos mesmos que hoje estão ao seu lado.
Espero que esta minha Nota toque a sensibilidade dos senhores e faça com que reflitam e revejam o grosseiro erro que cometeram. Um mundo justo só se conquista com LUTA, não com é com medo e dubiedade, não é com retrocesso e “acordos”, e sim, com AVANÇO!
Atenciosamente,
Lurildo R. Saraiva
Professor Associado de Cardiologia
Universidade Federal de Pernambuco
Logo após assinatura do acordo começaram a circular nas listas da internet inúmeros protestos contra a postura da direção do Andes de ter assinado um acordo com o governo, sem se quer ter consultado a base da categoria. UNIDOS PRA LUTAR publica duas importantes contribuições para esse debate feitas pelo sindicato dos docentes do Amapá e por um docente da Universidade Rural de Pernambuco da qual coincidimos em boa parte de suas analises sobre o acordo.
Estamos com essa iniciativa abrindo nosso BLOG de forma democrática para quem quiser opinar sobre referido acordo, inclusive a direção do próprio Andes – Sindicato Nacional.
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